Pesque e solte ou captura e devolução

17:49smotta


A prática de pescar e soltar começou, há muito tempo, em países mais desenvolvidos que o nosso, como "catch and realese" e hoje muitos pescadores brasileiros aderiram à ela. Graças a Deus, pois houve um tempo em que eu e outros poucos éramos chamados de malucos e por outros adjetivos impublicáveis, mas a maioria dos que aderiram ainda não sabe ao certo o que faz...

Soltar um peixe que acabou de capturar é ter um segundo prazer na pescaria e a certeza de estar preservando a natureza, dando ao peixe a chance de se reproduzir e a outros pescadores a oportunidade de se depararem com o mesmo peixe e de terem prazer igual.

Mas o cath and realese não pode ser traduzido simplesmente como “captura e devolução” e/ou como “pesca e solte”. Traduzido assim, ao pé da letra, gera uma elipse, fica - no mínimo - faltando a palavra “logo" ou “rapidamente” e que não é subtendida pela maioria dos pescadores que se dizem esportivos.

"Captura e devolução" ou "pesque solte", são termos que só fazem sentido se não houver perda de tempo, para devolver ou soltar. A maioria dos pescadores se deixa levar pela fraqueza de precisar registrar a captura, para exibi-la nas redes sociais, e não se dá conta do mal que causa àquele peixe embarcado com grande sacrifício (para ele peixe), para depois ser fotografado de vários ângulos...

A cada vez que abrimos a boca para beber ou comer alguma coisa, iniciamos um processo que terá por fim a poluição de rios e/ou do mar. Como, inevitavelmente, fazemos isso algumas vezes por dia, somos todos (mesmo que nada mais de agressivo ao meio ambiente façamos) destruidores da natureza. No entanto, como pescadores, podemos não estender ainda mais as nossas agressões, se a cada pescaria que realizarmos somente matarmos peixe referente a uma refeição, para alimentação de até quatro pessoas. Para isso será necessário e indispensável praticar o pesque e solte de forma correta, tendo a certeza de estarmos, de fato, devolvendo o peixe à vida e não o liberando já condenado a uma morte que se dará por consequência de não o termos tratado com os devidos cuidados.

Segundo estudos da “Snook Foundation” (http://www.snookfoundation.org) divulgado em 2005, seguem algumas diretrizes para a correta prática do “pesque e solte”:

"Os passos mais importantes que um pescador pode tomar para garantir uma devolução bem sucedida são:

       Examinar rapidamente a condição do peixe.
Retirar o quanto antes o anzol ou garateia.
Manter o peixe na água enquanto remove o anzol ou garateia.
Liberar o peixe mais rápido possível.

Existem várias outras maneiras de melhorar as taxas de sobrevivência pós-soltura:
Faça o que fizer, faça-o rapidamente. Manter um peixe exausto fora da água é como colocar um saco pesado sobre um corredor que tenha acabado de completar uma maratona. Ambos precisam de oxigênio para se recuperar.

Molhe as mãos ou as luvas antes de manusear o peixe. Tome cuidado para não ferir os olhos ou guelras. Colocar o peixe em uma toalha molhada ajudará a manter a mucosa de proteção. Cuide do peixe em todos os momentos que antecedam a soltura, se você deixar o peixe cair, as chances dele se ferir e morrer aumentarão em muito.

Decida rapidamente qual peixe você matará no viveiro, para posterior abate, e liberte imediatamente todo peixe que você optar por soltar. Não mantenha no viveiro um peixe por um tempo prolongado e nem liberte um peixe que tenha sido mantido preso para abate. Nunca coloque um peixe no viveiro, com a intenção de liberá-lo mais tarde. Uma vez que você tome a decisão de manter um peixe no viveiro, fique com ele. Os peixes mantidos em viveiro e posteriormente liberados têm diminuída, em muito, as chances de sobrevivência.

Evite o uso de bicheiros e nunca retire os peixes de maior porte da água. Peixes grandes podem ferir-se com facilidade e devem, portanto, ser tratados com respeito. Tire rapidamente uma foto desses peixes ainda na água e solte-os.

Evite segurar o peixe na posição vertical, ao inspecioná-lo ou ao fotografá-lo. Os órgãos internos serão deslocados e o estresse será aumentado nessa posição que não é natural. Peixes maiores nunca deverão içados ou mantidos somente pelo maxilar inferior, seja pela mão do pescador ou pelo uso de alguma ferramenta. Peixes maiores, especialmente os robalos, poderão ter rompimento no tecido cartilaginoso e dos ligamentos que ligam a cabeça ao corpo e morrerão de forma lenta por inanição, já que esses ligamentos são extremamente necessários para a ação de engolir durante a alimentação.

Se o anzol o a garateia estiver difícil de remover com a mão, use um alicate de bico comprido ou outra ferramenta de remoção de anzol. Não aumente o rasgo provocado pelo anzol, para a remoção. Retire o anzol através do rasgo original. Se isso não funcionar, corte o líder e puxe o anzol ao contrário através da lesão. Não levante um peixe pelo líder, pois isso poderá aumentar os danos no peixe.

Tente pescar com anzóis barbless (sem farpa ou com a farpa amassada), para removê-lo com facilidade. O uso do barbless não torna os índices de captura significativamente diferentes. Anzóis ou garateias barbless  são mais fáceis de serem removidos e  causam menos danos físicos ao peixe. (e ao pescador)

O uso de anzóis circulares, causa menos lesões e aumenta a eficácia da fisgada.

Se o peixe estiver em boa forma, devolva-o imediatamente de modo que ele seja inserido na água de cabeça. Se ele não nadar ou estiver com o nado letárgico ou errático, alguns processos de "ressuscitação" poderão ser necessários até que o peixe posse nadar por conta própria. Segure os peixes exaustos de forma adequada, primeiramente colocando uma mão sob a cauda e mantendo o lábio inferior com a outra. Se o peixe estiver em boa forma, posicione-o apenas com a cabeça na corrente. Se o peixe estiver muito letárgico, comprima o lábio inferior para fazer com que a maxila seja aberta e mova suavemente o peixe sempre para a frente. Mover o peixe para frente e para trás, de maneira errática apenas o induzirá a mais stress. Você já viu algum peixe nadando para frente e para trás? Ao primeiro sinal de que o peixe nadará, deixe-o ir. Tentativas prolongadas de reanimação são ser estressante para os peixes.

Grandes espécimes pelágicos, tais como tubarões e tarpons devem ser trazidos ao lado do barco dentro de no máximo 20 minutos após serem fisgados. Se você estiver constantemente soltando peixes exaustos e que exigem grandes esforços na reanimação, considerar a necessidade do uso de um equipamento mais pesado.

Esvaziar ou não? Vários estudos foram realizados para determinar se esvaziar as bexigas natatórias distendidas de peixes içados de águas profundas aumenta a chance de sobrevivência. Os resultados não definiram se é benéfico ou não, no entanto, esvaziar em meros e garoupas mostrou aumento na sobrevivência. É importante conhecer e utilizar os procedimentos adequados, para o esvaziamento.

Pratique e compartilhe essas técnicas! Ensine esses procedimentos simples a seus filhos e aos demais pescadores inexperientes, para ajudar a garantir as populações de peixes esportivos no futuro."

Vídeo mostrando um pesque e solte realizado de forma correta:




O facilitador barbless citado no texto da Snook & Gamefish Foudation (inclusive utilizado no vídeo acima), pode ser conhecido com mais detalhes clicando aqui.

Além do tamanho mínimo permitido por lei, há de se considerar que algumas espécies, como o robalo flecha, entre outras, ficam com a carne muito ruim, para ser consumida, após atingirem certa idade e a idade pode ser avaliada pelo tamanho. Um robalo flecha medindo (por exemplo) 80 cm, já estará num tamanho cujo abate será permitido, mas, em geral, a carne dele estará mais rígida e bem menos saborosa do que o normal; carne ruim de um peixe velho. Nesse caso, nada melhor do que tirar aquela foto (tomando os cuidados citados acima) e devolvê-lo à vida.

Ainda assim, não cometa estes desnecessários tão frequentes erros:
  • Não mantenha o peixe fora da água por tempo além do estritamente necessário! Para que manter o peixe durante tanto tempo apontado para a sua câmera?
  • Não encoste o peixe em superfície alguma fora da água! Qual a necessidade de encostar o peixe em uma régua? É preciso mesmo medir, para saber se um robalo (por exemplo) tem mais ou menos de 35 cm? É mesmo tão indispensável saber exatamente o tamanho do peixe?  
  • Não jogue o peixe de volta na água! Custa alguma coisa voltar com peixe carinhosamente e fazer a correta liberação?
  • Não repita os erros que outros cometem! Reflita bem sobre tudo o que você veja, há muita coisa errada sendo divulgada como correta na pesca esportiva. Assimile apenas o que seja positivo!
Reflita: você não é obrigado a liberar o peixe que acabou de pescar, desde que ele não esteja em período de defeso ou abaixo do tamanho mínimo permitido! Afinal, se você o pescou, ele é “seu”, mas - se for soltá-lo - faça direito e rapidamente, antes de lesioná-lo, e não apenas para parecer ecologicamente correto sem ser.



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