Pescar e soltar robalos
08:42smottaCom a humildade que deve habitar o coração de todo pescador esportivo, eu tenho confessado que não sou um caiaqueiro, pois estou ainda aprendendo sobre caiaques com os caiaqueiros. Sou apenas um pescador, com prática no uso de várias embarcações na pesca esportiva, mas tendo como experiência com remo apenas o uso, por pouco tempo, de um caiaque fechado e por mais tempo de uma canoa canadense, de fundo duplo, que me serviu plenamente nos manguezais e em outros pontos, em busca do peixe da minha predileção, o robalo. Atualmente vivo a expectativa de tirar bons proveitos da mobilidade de um caiaque SOT.
O assunto que passo a abordar poderá ser tido como polêmico, por quem ainda não for praticante da modalidade, mas se for devidamente encarado com o verdadeiro espírito que traz em todas as suas frases que é o da reflexão e o da conscientização, a compreensão da leitura, da intenção e da essência será plena. Bastará o leitor ter um mínimo de boa vontade, para constatar que este é o mais amistoso possível dos discursos, já que busca apenas e tão-somente melhorias, para todos nós, através de uma pequena atitude que gera grandes resultados, tanto em nossas próximas pescarias quanto nas pescarias das futuras gerações. Este texto tratará da prática do “pescar, fotografar e soltar!”
Durante um tempo, eu me ative observar os pescadores esportivos que ainda liberam peixe cometendo um erro ou outro e não me dei conta de que há um longo trabalho a ser feito, num estágio bem anterior a esse...
É certo que a cada vez que abrimos a boca, para beber ou comer alguma coisa, damos início a um processo que terá por fim a poluição de rios e/ou do mar. Como, inevitavelmente, fazemos isso algumas vezes por dia, somos todos (mesmo que mais nada de agressivo ao meio ambiente façamos) destruidores da natureza em potencial. Por isso, me sinto à vontade, para tocar no assunto, sem correr o risco de parecer um ecologista de ocasião ou de estar me aproveitando de algum tipo de modismo. Sou um ser vivente, logo sou um confesso agressor em potencial do planeta, mas há exatos 25 anos e eu não mato nenhum dos robalos que fisgo.
Depois que devolvi o primeiro grande robalo à água, nunca mais consegui deixar de agir assim, tenha o peixe o tamanho que tiver. Não há nada demais nisso e essa prática de pescar e soltar não me torna melhor pescador ou melhor ser humano que nenhum outro, mas ter aderido a ela me deixa muito mais feliz e me faz sentir muito mais útil do que eu me sentia antes, sem dúvida alguma.
Na qualidade de pescadores esportivos, podemos não estender ainda mais as nossas agressões ao meio ambiente, seguindo a regra básica de a cada pescaria que realizarmos matarmos somente peixe necessário a uma refeição, para alimentação de até quatro pessoas. Afinal, somos ou não pescadores esportivos? Nossas metas e desejos são ou não diferentes das de um pescador profissional?
A cada dia que passa há menos peixe, seja no mar ou nos rios e lagoas, e algumas espécies (justamente as mais esportivas delas) são mais suscetíveis aos males causados pelo progresso e as que mais escasseiam dia após dia. O robalo e o tucunaré (principalmente o tucunaré ambientado fora da Amazônia) são algumas delas...
O robalo (peixe predileto da maioria dos pescadores esportivos que frequentam o mar e os estuários) é tão especial, mas tão especial, que deveria receber, de todo pescador que tenha a honra (e a capacidade é claro) de captura-lo uma simples, porém elevada, homenagem e ser devolvido com vida à água! Ao tucunaré que vive fora da Amazônia a homenagem deveria ser a mesma...
Por mais gostosa que a carne do robalo seja, para o paladar de muitos pescadores, a cada robalo que fisgamos e matamos menos robalos estarão à nossa espera na nossa próxima pescaria. Se o robalo não libertado for uma fêmea ovada, então, o estrago será ainda maior e mais falta às nossas próximas pescarias aquele peixe que matamos fará.
Afinal onde o robalo é mais gostoso? Tomando linha, fazendo o carretel da carretilha ou do molinete cantar, saltando e dando aquele show que jamais sairá da mente do pescador esportivo, ou num prato em postas, coberto com molho de camarão?
Para quem considere o robalo mais gostoso servido à mesa, vale lembrar que ele pode ser facilmente encontrado e comprado, para fins de consumo, sem que precisemos mata-lo, pois há os ditos pescadores profissionais que o matarão constantemente, sempre em nome do sustento e, na maioria das vezes, sem respeito a nenhuma regra, seja de tamanho e/ou de período de defeso.
Mas o pescador esportivo vai gastar dinheiro comprando um peixe que está de graça ao alcance dele?
E por que não? Já não gasta com iscas, com varas, com carretilhas e/ou molinetes, com linhas de última geração e etc, justamente para ter o prazer de se deparar com tal peixe vivo? Quando o peixe esportivo rarear de vez, o pescador não vai gastar muito mais do que poderá gastar hoje numa peixaria, apenas com viagens e hospedagens que lhe arrancarão o olho da cara, somente para ter a oportunidade de vivenciar raros momentos com peixes que estarão a cada dia mais distantes e menos acessíveis?
Antes de ficar aborrecido com o que acabou de ler, reflita: você já soltou algum robalo que tenha capturado? Já, um grande? Se não soltou, não há problema algum, nunca é tarde para começar! E eu aproveito, para lançar um desfio a quem topar: pesque um robalo (quanto maior melhor, em todos os sentidos), faça a foto que você deseja (seja breve na foto), libere o robalo, o observe nadando livre (após ter lhe proporcionado momentos inesquecíveis), se possível fotografe-o ou filme-o indo embora, conheça uma nova sensação (na qual você ficará viciado) e volte a pescar e a não soltar! Duvido que você consiga!!!
Pescar e soltar robalo vicia! É uma atitude poderosa! Tendo feito uma vez, jamais o pescador conseguirá abrir mão de sentir novamente a sensação de ter um segundo prazer na pescaria e a certeza de estar fazendo a sua parte na preservação da natureza, dando ao peixe a chance de viver e de se reproduzir, e a outros pescadores a oportunidade de se depararem com o mesmo peixe e/ou com as reproduções daquele peixe e de terem prazer igual ao seu.
Esse assunto não é simples, já que nenhuma verdade pode ser absoluta, mas meu objetivo estará plenamente atingido se um único leitor desse texto aceitar o desafio, pois não sou único, mas ainda que hoje eu fosse um só, tentando convencer a vários, assim que um segundo começasse a praticar o cath and release pleno, já seríamos dois, e logo um outro seria convencido por nossos exemplos e aí passaríamos a ser três e por aí iríamos, firmes, rumo a muitos!
Este pescador desconhece que não há glória alguma nesta imagem, muito pelo contrário!
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